José de Jesus Neves Júnior (1901-1982) – professor liceal farense
Dados
Biográficos
Nota introdutória
José Neves
distinguiu-se pelo seu gosto pelo saber. Desde muito jovem dedicou-se à leitura
de obras de várias áreas do conhecimento – obras literárias nacionais e
estrangeiras (romance e poesia) bibliografia crítica nas áreas da História, Geografia,
Filosofia, Epistemologia, Arte, etc. Os seus conhecimentos eram portanto vastos
e os seus interesses diversificados. Para além das áreas já referidas,
poder-se-ia acrescentar o gosto pela música e pela fotografia.
Desde cedo se
interessou pelas questões sociais fazendo muitas leituras no âmbito das
doutrinas políticas e tornando-se um defensor do socialismo.
Uma das suas
características foi também o gosto pela transmissão do conhecimento, não apenas
a nível escolar e académico, mas também a nível da comunidade. Considerava que
se deveria divulgar o conhecimento à população em geral.
Gosto pelo
saber, pela transmissão do conhecimento, pela reflexão. Daí as inúmeras
conferências e palestras, os artigos publicados em revistas e jornais, a
actividade epistolar. Daí afinal, toda a sua actividade cívica e cultural.
Como
professor preparou sempre com muita dedicação as suas lições, sendo um trabalho
que aperfeiçoava todos os anos.
Dados biográficos
15 de Outubro de 1901 – nasce em
Faro na Rua do Compromisso.
1906 - Aos cinco anos começa a frequentar uma
escola particular na Rua Serpa Pinto (espécie de Jardim de Infância) –
ensinavam a conhecer as letras e os traços caligráficos.
Outubro de 1908 – entra para a
escola oficial.
Junho ? de 1911 – exame do 1º
grau com distinção.
Outubro de 1912 – entra para o
Liceu.
30/31 de Julho de 1917 – exame do
5º ano.
8 de Outubro de 1918 – entra para
o escritório comercial de Francisco Mateus Júnior na Rua Conselheiro Bívar. Interrupção dos estudos.
Verão de 1919 – Criação do Centro
de propaganda das doutrinas socialistas juntamente com outros jovens. Reuniam
na Sala dos Sindicatos Operários que deitava janelas para a Rua de Portugal. O
receio da disseminação das ideias socialistas provocado pela Revolução
Soviética de 1917, leva o Governo Civil de Faro a ordenar o encarceramento dos
jovens. José Neves passa então 13 dias na prisão.
Julho de 1920 – é aprovado no
exame do 7º ano de Letras completando assim o curso liceal.
2 de Outubro de 1921 – morte de
sua mãe.
8 de Outubro de 1921 – entra para
a Faculdade de Letras de Lisboa.
1922/23 – Interrompe os estudos
para se preparar financeiramente para a sua subsistência em Lisboa, através de
explicações.
1923/24 – Regresso aos estudos na
Faculdade de Letras não havendo a partir daí mais interrupções (teve sempre de
dar explicações para providenciar o seu sustento em Lisboa).
1923/24 – Frequenta a casa de
Teófilo Braga ajudando o mestre a redigir os seus trabalhos.
1925 – Movimento grevista na
Faculdade de Letras. José Neves adere tornando-se presidente da comissão dos
grevistas.
27 de Janeiro de 1927 – Apresentação
da tese de licenciatura “ A questão social no século XIX.” Obtém a
classificação de 15 valores no exame de licenciatura.
Maio de 1927 – Exame de admissão
à Escola Normal Superior.
Novembro de 1927 – Começa a dar
aulas no Liceu Passos Manuel, em substituição de um professor, enquanto
prosseguiam as aulas do 1º ano na Escola Normal Superior. É neste curto período
de dois meses que é professor de Orlando Ribeiro. Manterá com este cordial
amizade ao longo da vida.
Janeiro/Junho de 1928 – faz
estágio no Liceu Camões.
12 de Outubro de 1928 – morte do
pai.
1928/1929 – Consegue colocação no
Liceu de Faro.
21 de Setembro de 1930 – Casa com
Maria Francisca Lourenço Mendonça.
Outubro de 1930 – Parte para o
Funchal para ocupar a vaga de professor efectivo no Liceu Jaime Moniz.
1932/1933 –
Conferências no Liceu Jaime Moniz – “ A intencionalidade do descobrimento do
Brasil” em 1932 e “A significação histórica da acção colonial portuguesa” em
1933.
1930/1938 –
Durante este período lecciona no Liceu Jaime Moniz no Funchal. Aqui
relaciona-se com um grupo de colegas entre os quais se contava Sant’Anna
Dionísio. Empenhado no aprofundamento dos seus estudos, José Neves continuava
as suas leituras e reflexões. Desenvolveu nesta época um estudo que intitulou “Aspectos económicos e sociais da Idade Média
Portuguesa”, publicado na revista Labor em 1957. O gosto pela música
levou-o também a promover concertos.
1938/1945 – José
Neves é professor efectivo no Liceu de Évora. É nomeando vice-reitor. Apesar de
ocupar cargos e tarefas de relevo durante a vigência do Estado Novo, havia quem
o soubesse desafecto ao regime.
1945 – É
colocado como professor efectivo no Liceu de Faro.
Recomeça em
Faro a sua actividade cultural. O Círculo Cultural do Algarve será espaço de
convívio e participação. É convidado então a colaborar nas actividades da
Universidade Popular, pelos orientadores desta associação cultural, que eram os
colegas Aleixo da Cunha e Joaquim Magalhães. Nestas sessões repete algumas
temáticas já apresentadas noutros locais e prepara novos temas, nomeadamente a
lição sobre “Ciência Náutica na Época dos Descobrimentos” e as lições sobre a
geração de 1870. Mais tarde, em 1949 apresenta outra conferência a propósito
das festas centenárias de Faro. O trabalho – “O condicionalismo histórico da
formação de Portugal” – foi
posteriormente publicado na Revista Labor.
Começa a
conviver como poeta Emiliano da Costa. Do grupo de amigos que rodeavam o poeta
faziam parte, além de José Neves, Joaquim Magalhães, Aleixo da Cunha, Arnaldo
Vilhena, Gaspar da Costa, Marques da Silva e António Ramos Rosa. Também o poeta
Cândido Guerreiro faz parte do seu círculo de amizades. Será este poeta objecto
dos seus estudos e palestras.
Nos anos 50
José Neves passou a ser chamado com frequência para serviços do Ministério:
apreciação dos livros escolares, exames de admissão ao estágio pedagógico e
exames de Estado. Esta actividade continuará sem interrupções até ao final da
sua carreira.
No final dos
anos 50 e princípios dos anos 60, José Neves realizou vários passeios ao norte
de Portugal, nos quais aproveitou para fazer as suas observações geográficas.
Foi com base nestas observações que desenvolveu os textos que foram
posteriormente publicados na obra “Guia de Portugal – Alto Minho”.
Nos finais dos
anos 60, José Neves colabora no Dicionário de História de Portugal de Joel
Serrão, com um artigo sobre Alberto Sampaio. [Em 1946, Joel Serrão dedicara ao
seu professor a 1ª edição da obra “O carácter social da revolução de 1383” em
caderno da Seara Nova, nos seguintes termos: “Ao Dr. José Neves Júnior meu
primeiro professor de História, pelo muito que lhe devo e pelo muito que o
estimo.”]
1966 – A convite
de Orlando Ribeiro, José Neves faz a palestra de abertura de um dos seus
Colóquios que se realizavam todas as quintas-feiras no Centro de Estudos
Geográficos. O trabalho - “Introdução ao
estudo da formação lagunar do sul de Portugal” - seria publicado em 1967 na revista do Liceu
Normal de Lisboa – “A Palestra”.
1971 – José
Neves termina a sua carreira de professor em 1971, aos 70 anos de idade, sendo
à época vice-reitor. A despedida foi no dia de Camões tendo José Neves
proferido uma palestra sobre Camões.
Em Outubro de
1971, a revista Labor faz referência à sua aposentação: “O Dr. José Neves Júnior, logrou uma justa fama de homem muito culto,
não só pelo nível de ensino que transmitiu aos seus alunos, como pelas
excelentes conferências que profere no Círculo Cultural do Algarve e noutras
colectividades sobre variados ramos do conhecimento.”
1972 – É-lhe
concedida a Medalha de Mérito pela Câmara Municipal de Faro.
Em Junho de 1972
recebe um louvor do Ministério da Educação Nacional, noticiado pelo jornal
Correio do Sul: “O nosso estimado
conterrâneo, ilustre colaborador e prezado amigo, Sr. Dr. José de Jesus Neves
Júnior, Licenciado em Ciências Históricas e Geográficas e professor efectivo,
muito considerado e distinto, de Ensino Liceal, que, conforme noticiamos,
passou à meses à situação de reforma, por ter atingido o limite de idade,
recebeu agora um expressivo louvor do Ministério de Educação Nacional ‘pela
competência, zelo e qualidades demonstradas, durante quarenta e dois anos, nos
exercício das suas funções’.”
Após a sua
aposentação, José Neves continua a sua actividade cívica e cultural: publica
vários artigos em diversos jornais da região, como o “Correio do Sul”, e “O
Algarve”, integra a direcção da Associação de Pais e Amigos das Crianças
Diminuídas e, a partir de 1974, participa no grupo cultural de apoio à Comissão
Regional de Turismo do Algarve.
25 de Abril de
1974 – Intervenções na sequência do 25 de Abril: José Neves preside a uma
reunião com antigos opositores ao regime anterior no Círculo Cultural do
Algarve; participa na manifestação do 1º de Maio em Faro onde dirige nalgumas
palavras à multidão reunida no largo da
Câmara Municipal. Participa em várias sessões de esclarecimento em Faro e
noutras regiões algarvias.
Em 1980 orienta
uma série de “Visitas Guiadas” ao património cultural de Faro, promovidas pelo
Círculo Cultural do Algarve. Colabora nos cursos de formação de Guias de
Turismo na Escola Hoteleira de Faro até 1981. Escreve ainda os seus artigos
para os jornais regionais.
Falecimento a 27
de Outubro de 1982.
Cristina Neves
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